Cardeal e Arcebispo de Belo Horizonte era conselheiro do Atlético
“O Atlético é o que há de mais sublime para quem ama”
O Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo, ex-Arcebispo de Belo Horizonte, completaria 100 anos de existência nesta terça-feira, 13 de agosto de 2024. Nascido em Minas Novas, há um século, Dom Serafim tinha, entre tantos feitos no currículo, o fato de ter sido um fervoroso e atuante torcedor do Galo!
Conselheiro grande-benemérito do Atlético, ele faleceu em 2019, aos 95 anos. O centenário do cardeal virou exposição na Fundação Dom Cabral, e o seu amor ao mais tradicional clube de Minas Gerais é um capítulo importante dessa história. Os 100 anos foram homenageados pelo Galo no último clássico contra o Cruzeiro, sábado passado, com patch no manto sagrado.
“Eu tinha 12 anos, não conhecia nada de Belo Horizonte, mas eu já conhecia o Atlético. Ele entrou na minha vida quando eu não tinha nada. Nós todos temos responsabilidade de fazer o Atlético do povo, do simples, de todos! No momento que eu torço para o Atlético, eu me esqueço de tudo, e eu fico do tamanho da grande torcida atleticana” – Dom Serafim, em depoimento à Rede Minas, em 2006.
O início – Dom Serafim veio a Belo Horizonte na mocidade, na década de 1930, e se encantou com aquele time que tinha Kafunga e Guará, reconhecido como legítimo campeão do Brasileiro de 1937. Frequentador do estádio Antônio Carlos, o cardeal começaria a participar ativamente da vida política do Galo em 1962, quando foi nomeado conselheiro nato do Clube.
Ele subiria de posto até alcançar o título de conselheiro grande-benemérito. Sua figura de paz desempenhava papel de conciliação nas quentes reuniões do Conselho Deliberativo do Atlético. A prova é esse recorte da Revista Placar de 1970:
“Há pouco tempo, Dom Serafim também mostrou suas qualidades de conciliador. As crises do Atlético sempre terminam com um conselho espiritual promovido por ele. Isso aconteceu recentemente na saída de Carlos Alberto Naves, em janeiro, da presidência do clube. Naves vinha sendo muito criticado por ter deixado o Atlético com dívidas. Dom Serafim harmonizou tudo. Naves foi até aplaudido quando passou o cargo a Nélson Campos”.
Jovens craques – Dom Serafim era responsável por manter o Orfanato Santo Antônio, local que abrigou e se transformou em segunda casa para uma geração de craques formada na base do Galo: Toninho Cerezo, Reinaldo, Paulo Isidoro, Marcelo Oliveira, e outros. “Foi lá que eu aprendi xadrez”, diz o Rei.
“Íamos para a igreja, ajudávamos na missa, ficávamos vendendo vela. Era a nossa diversão. Se não tivesse isso, as coisas poderiam ter sido diferentes. Isso foi o mais importante de tudo” – Reinaldo, que já tinha seu precoce talento no dente-de-leite do Galo acompanhado pelo Cardeal:
“Fiquei tão emocionado que fui lá fora comprar outro ingresso”, afirmou Dom Serafim, em 1973, quando foi entrevistado sobre um gol de Reinaldo na base. Na época da frase, o artilheiro tinha 16 anos e estava pronto para estrear no time profissional.
A ligação com Toninh0 Cerezo foi ainda maior. Dom Serafim impediu, por exemplo, que Cerezo deixasse de vez o Atlético e permanecesse nos campos de várzea de Belo Horizonte. Assim como Reinaldo, o Cardeal também celebrou a missa de casamento do volante.
Inaugurações – Dom Serafim foi nomeado como o presidente do “Plano de Expansão” do Atlético para a década de 1970. O Clube, que venceria o então primeiro Campeonato Brasileiro em 1971, construía a moderna Vila Olímpica, parque aquático que teria, também, o alojamento do departamento de futebol profissional. Na inauguração da Vila, lá estava o Cardeal para dar as bênçãos.
Ele também esteve presente na inauguração da sede administrativa de Lourdes, em 1958, além de celebrar uma missa na Cidade do Galo em 2006, em um dos eventos de inauguração do CT atleticano, desta vez no hotel do time profissional. Dom Serafim foi agraciado com o Galo de Prata, maior honraria do Clube Atlético Mineiro, em 2004.
O Galo de Prata faz parte do Memorial Cardeal Dom Serafim, exposição permanente da Fundação Dom Cabral, no campus de Nova Lima. “Pessoa maravilhosa, inteligente e muito humano, viveu para servir“, depõe Sérgio Coelho, presidente do Galo, que esteve ao lado de Dom Serafim na inauguração do CT.